Com quase 96 anos, Generoso Martins da Rocha fez questão de vir exercer seu direito de associado da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), na assembleia anual realizada hoje, 27 de julho, em Santa Cruz do Sul/RS. Acompanhado pelo filho Oteleme Martins da Rocha, de 68 anos, ele recebeu os aplausos dos associados presentes e também da diretoria e conselhos da entidade.
Nascido em 04 de outubro de 1928, na Santa Auta, 5º distrito de Camaquã/RS, Generoso casou com Teolina em 1953. Em 1970 começaram a plantar tabaco, na propriedade de 24 hectares, adquirida com muito trabalho, na Linha Freguesia, também interior de Camaquã. Em 67 anos de casados – Teolina faleceu no início de 2020 – são 11 filhos (dois falecidos na infância), 19 netos e 11 bisnetos.
Genoroso e o filho Oteleme contam que o que foi adquirido pela família e criação dos filhos veio da renda com o tabaco. “Meus pais não eram fumicultores. Mas, desde que começamos a plantar fumo, não paramos mais. É a renda da propriedade. Criamos nossos filhos ali”, diz Generoso. O filho lembra que, desde que iniciou com a fumicultura, seu pai se associou à Afubra. “São mais de 50 anos que somos associados”, enfatizou Oteleme, orgulhoso da opção da família.
A família associada que estampa o relatório de atividades da Afubra 2023-2024 também esteve presente na assembleia e receberam suas homenagens pelos presentes. Lodvino Renz, 90 anos; Nelcido e Loreni Bohn, 68 e 65 anos; Clóvis Bohn e Adelaide Schmidt, 46 e 39 anos; e Felipe e Eduarda Bohn, de 13 e 9 anos. A família reside na Linha Sexto Regimento, interior de Venâncio Aires/RS, e, conforme enfatizado por eles, “tudo que nós temos veio do tabaco”.
O patriarca relata que casou em noite de São João. “Na outra semana já pegamos o serrote e o machado para fazer lenha e começar a plantar fumo. Colhemos uma colheita mais ou menos normal, tinha a propriedade toda comprada a dinheiro emprestado, pagar 8% de juro por ano. Fim do ano tinha que pagar o juro para depois ver se sobrava alguma coisa para mim. Paguei parte e fui continuando plantando fumo. Lenha tudo fazendo a mão. Não tinha motosserra, só serrote e machado. Eu e a esposa. Continuamos sempre nessa mesma propriedade. Quando fizemos oito anos de casados, já tínhamos feito uma outra casa um pouco melhor, tinha comprado um carrinho velho, um Ford 34. No meio do tempo, minha esposa faleceu. Entreguei a propriedade para a filha e ela foi continuando junto, até hoje. Sempre vivi bem com o tabaco. Plantamos soja e para mantimento sempre junto. Feijão, arroz, suíno, animal de corte, tudo isso sempre tinha. Tinha o suíno, vendendo o suíno, animal de corte. A minha vida foi boa e hoje eu ainda trabalho na roça, só que não no fumo. Planto um alimento, feijão, aipim. Eu não quero parar; o dia que eu não posso trabalhar na roça eu faço uma caminhadinha.”
A segunda geração, Nelcido e Loreni lembram que nos primeiros cinco anos moraram em outra propriedade. “Cinco safras nós fizemos lá, depois começamos a plantar juntos. E assim a gente foi comprando as coisas que tem no pátio. Isso é tudo dinheiro que vem do fumo. Fomos comprando em prestação tudo, pagando as dívidas, mas sempre sobrou bastante para a gente sobreviver. Agora reduzimos um pouco o ritmo com fumo, mas, continuamos trabalhando”.
Clóvis e Adelaide são a terceira geração. “Dá para dizer que nascemos na roça. Desde pequeno, sempre estamos juntos. Em 99, fui para cidade. Trabalhei em caminhão, comecei a viajar. Conheço praticamente o Brasil inteiro, o Paraguai, a Argentina, o Uruguai. No final, fiquei bastante tempo fora. O pai também estava precisando de alguém para ajudar, porque eles estavam parando. Daí um dia eu disse pra Adelaide: vamos voltar para o interior. Ela estava estudando pedagogia. Voltamos. Investimos no cuidado com a terra e o resultado são safras muito boas.”
Felipe e Eduarda, estudantes, já garantem que serão a quarta geração na propriedade. “Queremos continuar na propriedade do bisavô, porque aqui é mais calmo, na cidade é tudo mais agitado. Gostamos daqui”.
Texto: Jorn. Luciana Jost Radtke/Fotos: Ana Luísa de Lara